segunda-feira, outubro 29, 2007

O meu amor não cabe num poema


"O meu amor não cabe num poema ― há coisas assim,

que não se rendem à geometria deste mundo;

são como corpos desencontrados da sua arquitectura

os quartos que os gestos não preenchem.
O meu amor é maior que as palavras;

e daí inútil a agitação dos dedos na intimidade do texto ―a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías

nem a candura a mão que protege a chama que estremece.
O meu amor não se deixa dizer ― é um formigueiro

que acode aos lábios com a urgência de um beijo

ou a matéria efervescente os segredos;

a combustão laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios

de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.
O meu amor anda por dentro do silêncio a formular loucuras

com a nudez do teu nome ― é um fantasma que estrebucha

no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.Um verso que o vestisse definharia sob a roupa

como o esqueleto de uma palavra morta. nenhum poema

podia ser o chão a sua casa."


Maria do Rosário Pedreira

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

o amor começa tarde, isto é amor
autor desconhecido

10:33 da manhã  

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